sexta-feira, 21 de junho de 2013

Extra! Extra!


ATENÇÃO, LANÇAMENTO CANCELADO EM CAMPINAS.
O LANÇAMENTO DO LIVRO " A CRÍTICA DE JOÃO APOLINÁRIO: MEMÓRIA DO TEATRO PAULISTA DE 1964 A 1971".

EM RAZÃO DA DEPREDAÇÃO DA BIBLIOTECA MUNICIPAL OCORRIDA DURANTE AS MANIFESTAÇÕES DE ONTEM, A PREFEITURA DE CAMPINAS SUSPENDERÁ TODAS AS ATIVIDADES A PARTIR DAS 13 HORAS, INVIABILIZANDO A REALIZAÇÃO DO EVENTO.

O LANÇAMENTO SERÁ REALIZADO EM UMA NOVA DATA QUE INFORMAREMOS OPORTUNAMENTE.


terça-feira, 21 de maio de 2013

Fotos do lançamento


Assinatura do Termo de Doação do Arquivo JA para o AEL-Unicamp: Maria Luiza Teixeira Vasconcelos, viúva de João Apolinário e organizadora do livro, Lucilene Reginaldo, professora docente associada do AEL, e Elaine Marques Zanatta, diretora técnica do AEL-Unicamp.


Assinatura do Termo de Doação do Arquivo JA para o AEL-Unicamp: Isis de Palma, diretora da Imagens, Rafael Vasconcellos, gestor do projeto Memória João Apolinário, Maria Gabriela Teixeira Pinto, filha de João Apolinário, Maria Luiza Teixeira Vasconcelos, Ricardo Miranda Motta, gestor de patrocínios da Petrobras, Lucilene Reginaldo e Elaine Marques Zanatta.



Roda de conversa: Oswaldo Mendes, ator, César Vieira, diretor, Ana Salles, professora da PUC-SP, Regina Helena Paiva Ramos, crítica teatral, João das Neves, diretor, e Maria Luiza Teixeira Vasconcelos.


Agradecimento ao patrocínio da Petrobras: Ricardo Miranda Motta e Maria Luiza Teixeira Vasconcelos.


sábado, 11 de maio de 2013

Últimas notícias

A notícia sobre o lançamento do livro já corre por aí!

Estamos no blog do Dirceu Alves, Na Plateia, da Veja SP, no blog do Heródoto Barbeiro, na Veja Online, no Jornal Brasil Online, no Atores e Bastidores, blog sobre teatro do Miguel Arcanjo Prado, editor de cultura do portal R7, no site da Unicamp, no site da Fapesp e no site do Teatro Tuca.

Confiram os links!

terça-feira, 7 de maio de 2013

Crítica teatral do libertário João Apolinário é lançada


Em dois volumes, livro reúne 329 imagens e 332 críticas escritas pelo jornalista e poeta português entre 1964 e 1971



“Em arte, o compromisso, o engajamento
das ideias e das emoções criadoras, têm um
processo: não o culto de uma personalidade ou de
um sistema, mas a solução do homem no que nele
há de cósmico e universal, isto é, eterno”.

João Apolinário


O jornalista e poeta português João Apolinário, critico teatral do jornal Última Hora de São Paulo, produziu de 1964 a 1971, uma obra crítica de referência para o conhecimento do teatro paulista e brasileiro. Num período de excepcional criatividade, tornou evidentes as contradições e desajustes de uma época que na sua visão “influenciava e cilindrava o homem como produto econômico e espiritual da engrenagem social do capitalismo”.

Com edição da Imagens, o livro “A Crítica de João Apolinário – memória do teatro paulista de 1964 a 1971” é resultado de um projeto contemplado no Petrobras Cultural que reúne um rico material: 332 críticas e 329 imagens entre fotos e programas de espetáculos. Seu lançamento será no dia 15 de maio, a partir das 20h, no TUCA (Teatro da Universidade Católica de São Paulo). Também haverá uma roda de conversa com Cesar Vieira, Oswaldo Mendes, Ana Salles, Regina Helena Paiva Ramos e João das Neves.

Dividida em dois volumes, a obra é singular e faz uma análise ampla do quanto se viu de original, de afirmação da cultura brasileira e do significado que essa arte teve em São Paulo. Para escrever com liberdade, sem possíveis restrições da direção do jornal, Apolinário abriu mão de qualquer remuneração pelo seu trabalho. O acervo completo do crítico – cerca de 500 críticas, 1.200 fotografias e 250 programas de espetáculos – será doado ao Arquivo Edgar Leuenroth (AEL), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O objetivo é dar livre acesso ao acervo a pesquisadores e estudiosos do teatro.

E não à toa Apolinário foi o homenageado deste ano do prêmio Os Melhores da Arte em 2012 da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), entregue em meados de março. Como explica o jornalista, ator e dramaturgo Oswaldo Mendes em seu texto “Rascunhos da memória”, que faz parte da abertura do livro, Apolinário percebeu que “era preciso congregar os críticos de arte de todas as áreas, do teatro ao rádio e à televisão, do cinema à música popular, da literatura à música erudita, do rádio às então chamadas artes plásticas, enfim reunir um número expressivo de vozes que pudessem ser ouvidas também como resistência à censura oficial. O caminho mais curto para esse objetivo seria transformar a Associação Paulista de Críticos de Teatro (APCT) em APCA”.

Em 1972, assumiu sua presidência e redigiu seus estatutos. Para que a entidade ganhasse visibilidade, Apolinário criou uma série de premiações, entre elas, o Prêmio Gil Vicente para o teatro. A primeira festa de premiação da nova entidade aconteceu no histórico TUCA, já então palco da resistência contra a ditadura (como se vê, o local de lançamento do livro não foi uma escolha aleatória).

Intelectual português que se exilou no Brasil em dezembro de 1963, por oposição cultural ao regime de António de Oliveira Salazar, Apolinário viveu em São Paulo, até 31 de março de 1964, os seus primeiros três meses de vida sem a rigidez ditatorial. Nasceu no dia 18 de janeiro de 1924 em Belas, Sintra. Tinha dois anos de idade quando começou em seu país um período longo – quarenta e oito anos – de enorme austeridade social, política, econômica e cultural.

Tendo frequentado as Faculdades de Direito das Universidades de Coimbra e de Lisboa, onde se graduou, aos 21 anos de idade era jurista, poeta e jornalista. Foi correspondente de guerra e nessa qualidade fez parte, como tenente do exército francês, em 1945, do primeiro contingente de jornalistas que viu na sua extensão real, física e humana, a devastação causada na Europa pelas forças em conflito na Segunda Guerra Mundial e os horrores dos campos de concentração. Isso lhe deixou marcas permanentes. Deixando Paris e, de volta a Portugal em 1949, sua ação cultural subsequente foi abertamente de oposição ao salazarismo e a todas as formas de opressão.

Depois de doze anos de exílio no Brasil voltou a Portugal e, no início de 1975, viveu a liberdade que a Revolução de 25 de Abril de 1974 permitiu. Até outubro de 1988, com 64 anos, em Marvão onde vivia com sua mulher, a pesquisadora brasileira Maria Luiza Teixeira Vasconcelos, João Apolinário preocupou-se muito com sua poesia, sempre irrealizada. Nos seus últimos quatorze anos editou Apátridas, AmorfazerAmor, Poemas Cívicos, O Poeta Descalço, Eco Humus Homem Lógico e deixou inéditos os Sonetos Populares Incompletos.

“Uma formação filosófica sólida fundamentou o método de seu trabalho. Encontros e desencontros consigo próprio, por vezes alegres, contradições, sobretudo uma grande ironia, por vezes perversa, resultaram de “avisar toda a gente”, opção dominante e exigente em sua vida”, escreve Maria Luiza na abertura do livro.

“(...)

É preciso avisar toda a gente
Transmitindo esse morse de dores
É preciso imperioso e urgente
Mais flores mais flores mais flores”


O que
Lançamento do livro A Crítica de João Apolinário – memória do teatro paulista de 1964 a 1971.
Quando
15/05/2013, a partir das 20h.
Onde
TUCA – Rua Monte Alegre, 1024.
Mais informações


Maria Luiza Teixeira Vasconcelos, organizadora do acervo e da obra A critica de João Apolinário – memória do teatro paulista de 1964 a 1971, é pesquisadora e professora de História. Licenciada em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da PUC Campinas, foi professora de História e Cultura do Brasil entre 1964 e 1974. De 1974 a 2009, deu aulas de História de Portugal em escolas de Cascais, Sintra e Castelo de Vide. Frequentou em São Paulo, Lisboa e Estocolmo cursos de pós-graduação em Metodologia da História, História da Arte e Avaliação do Rendimento Escolar e do Sistema de Ensino. É viúva de João Apolinário.

Imagens é uma empresa presente há mais de 20 anos no mercado, que atua na área de educação, comunicação e cultura. Elabora e realiza projetos educacionais, ambientais e culturais. Presta consultoria em diversas áreas: eventos e apresentações artísticas, produção de atividades culturais, vídeos, programas de TV e rádio, material áudio visual, filmes educacionais, artísticos e culturais e elaboração de textos, roteiros e publicações.


Contato:
Lia Vasconcelos
Tel.: (11) 98216-6467

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Um pouco de poesia


Voo

o bico da ave
da ave que voa
é a proa da nave
da nave que voa
as vigias da nave
da nave que voa
são os olhos da ave
da ave que voa
o coração da ave
da ave que voa
é o motor da nave
da nave que voa
as asas da nave
da nave que voa
são as asas da ave
da ave que voa
a alma da ave
da ave que voa
é a alma do Homem
do Homem que voa

Primavera de Estrelas.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

"O Caso Oppenheimer" na Aliança Francesa

Espetáculo: O caso Oppenheimer
Autor: heinar Kipphardt
Diretor: Jean-Luc Descaves
1965, abril, Teatro Aliança Francesa


"O Caso Oppenheimer" na Aliança Francesa

Bastava a leitura desta peça de Heinar Kipphardt para se ter a impressão da sua debilidade como texto escrito para ser transformado em espetáculo. Se “O Caso Oppenheimer” nos coloca perante a flagrante atualidade de problemas cruciais para a consciência universal (e isso é um mérito extraordinário) sua realização, porém, nos pareceu, desde logo, extremamente difícil quando fosse testada no placo. A comunicação das ideias teria de fazer-se com recursos cênicos que a peça não pressupunha. O diretor teria de recriar elementos demasiadamente estáticos, de natureza muito verbal. A ausência de situações, a complexidade dos problemas propostos à inteligência (e cultura) do espectador, a dificuldade em seguir o ritmo das palavras sem as poder repensar, a carência de uma dinâmica que as explicasse pela imagem, tudo contribuiu para tornar dificílima, fatigante, sem significado, uma peça muito importante, muito oportuna e muito válida. Assistimos ao julgamento de Oppenheimer, o “pai da bomba atômica", acusado de traição aos Estados Unidos só porque tem escrúpulos de consciência e recusa sua colaboração na invenção de uma bomba ainda mais mortífera e terrível para a humanidade, sem que uma tomada de posição venha garantir ao espectador se é ele que está com a verdade. Tudo resulta confuso e pastoso. A peça se esvazia de conteúdo no decurso do seu lento desbobinar. Os personagens não se caracterizam na dimensão dramática de uma realidade crítica que já pertence à história contemporânea. Jean-Luc Descaves renunciou a essa tomada de posição e mostra-nos apenas um julgamento comum, com o mínimo de solenidade burocrática, como se ele intencionalmente se omitisse à recriação que lhe competia realizar e se limitasse a apresentar-nos o texto literário, servido na bandeja do palco, com Heinar Kipphardt como único responsável. Nem sequer utilizou todos os recursos que a peça indica. Teve receio de interceptar o longo, e por vezes fastidioso, desenrolar das ideias, com imagens e som que promovessem uma pausa para o espectador repensar.

Se Descaves tivesse evitado todos estes obstáculos e fosse servido por um grupo de atores mais homogêneo o espetáculo seria bem diferente. Seria melhor. Treze homens em cena é um problema. É preciso que cada um e todos realizem um trabalho que seja de per si e no conjunto, uma afirmação mais profunda da arte de representar. Jairo Arco e Flexa, por exemplo, que é um ator de mérito, veste a pele de Oppenheimer, mas jamais consegue ter o peso, a solenidade e a força que a grandeza do personagem possui. E os outros atores são levados a seguir a mesma linha superficial. Talvez uma exceção em Rubens de Falco e Paulo Vilaça. Estão mais ajustados à distribuição conferida pelo diretor, o que não acontece com a maioria dos outros. Há outra exceção ainda. Mas aqui a responsabilidade não é só de Descaves. É também de Ferreira Leite. Seus recursos, marcadamente acadêmicos, deram uma sugestão muito pessoal de um personagem que não é da peça, mas resulta como se fosse.

Apesar de tudo isto, “O Caso Oppenheimer” deve ser visto. Mais: deve ouvir-se com toda a atenção. Deve meditar-se e deve ser apoiado como espetáculo que serve, não obstante, a todos os que têm o hábito de pensar e que amam a dolorosa procura da verdade.


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Um pouco de poesia

A Janela Perdida

Onde estão as nozes
da velha nogueira
com o braço verde
dentro da janela

E as ginjas carnudas
onde estão corando
ou estarão voando
no bico dos pássaros

E as uvas douradas
de cachos gulosos
tão doces roubadas
até pelas abelhas

E as tangerineiras
passo-sim-passo não
entre o laranjal
semeando o chão

Onde estão  onde estão
as memórias da terra
se brotaram frutos
dos meus pés plantados

O Poeta Descalço
Lisboa, 1978.




quinta-feira, 11 de abril de 2013

Arena Conta Zumbi

Espetáculo: Arena conta Zumbi
Autor: Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri
Diretor: Augusto Boal
1965, maio, Teatro de Arena.

Arena Conta Zumbi


Disse Antonio Vieira: “O Brasil tem o corpo na América e a alma na África”. Não sei que luminosa intuição ou que tipo de pesquisa teria levado o nosso famoso clássico, em plena segunda metade do século XVII, a estabelecer as coordenadas desta afirmação. Mas sei que ela é verdadeira, como sei que são autênticas as “brutalidades e os crimes de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral”, limpamente conta­das pelo grande cronista português João de Barros, a propósito da ex­pedição punitiva organizada por dom Francisco de Almeida contra aquilo que foi considerado na época “injúria negra”. Se eu tivesse, porém, qualquer espécie de dúvida, o espetáculo do Arena varria do meu espírito a ignorância: desde os au­tores aos intérpretes de “Arena conta Zumbi”, todos são ali brasileiros (?) com alma africana. Melhor: to­dos são brancos com alma negra, cantando com entusiasmo e sinceri­dade os delicados e angelicais ne­gros de alma branca... Com efeito, Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, os autores do script, revelan­do possuir profundos conhecimentos das “imagens, atitudes, valores e estereótipos dos seus antepassadosbrancos, de suas reações perversas nas relações cruéis com a África e os africanos, fundamentam arbitra­riamente esse complexo confuso e mutável de mito e realidade e ofe­recem-nos este espetáculo de teatro. Zumbi, o mito, assume na sua rea­lidade romântica uma pretensão de tese que não resiste à mínima espe­culação histórica (processo dialéti­co que os autores irreverentemente não utilizam). É óbvio que não apre­ciaremos essa mensagem de Amor pela Liberdade com uma fundamen­tação tão frágil, tão superficial e folclórica. Repugnaria à coerência que devemos a quem nos lê, como a todos repugnará a velha lenda fas­cista do “comunista come criança”, dita, escrita (até já foi posta em teatro, também) sussurrada ou grita­da aos ignorantes e pobres de espírito. Glorifiquemos nossos irmãos negros, a sua e a nossa liberdade, mas não se troquem os valores con­cretos por abstrações demagógicas, não se confunda o mito com a rea­lidade, nem se distorça um e outra para atingir um populismo que é panfleto, mas não é arte. Fixemos, pois, que, onde se vê e ouve o negro, deve ver-se e ouvir-se o brasileiro. E onde está ou foi branco, é norte-americano. As calças Lee e as execráveis vestes da Ku-Klux-Klan ajudam a criar o atual ambiente que se pretende retratar. A partir daí, o mistério é mais concreto, a verdade menos mistificação e todo o resto mais presente, mais conferível, até mais lógico. A liberdade e nossos irmãos negros, mais nossos irmãos e mais liberdade.

Belo espetáculo, não obstante as dúvidas expostas. Entre elas, uma certeza de que algo de novo conti­nua a processar-se no plano técnico e estético dos valores postos em ce­na por Augusto Boal. No âmbito restrito da arena e utilizando simples acessórios, Boal pulveriza o espaço através de uma marcação que leva os intérpretes às mais belas imagens: cor, luz, ritmo, beleza plástica, har­monia total. O desenvolvimento da ação faz-se de forma empolgante, por vezes magistral. A originalidade e a força do espetáculo estão em tudo quanto se recria naquele chão: vozes, gestos, cânticos, tudo se plasma para formar essa pequena mara­vilha que é “Arena conta Zumbi”, apenas como realização teatral. Os atores, muito bem. Guarnieri e Sfat, melhores. É, sobretudo, em face des­tes méritos que nos faz pena não aceitar integralmente a problemática que a peça sugere, mas não conse­guiu transmitir.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Um pouco de poesia

Brinquedos

João tinha um cão
um burro e um pião
e gostava dos três
pela mesma razão
mas amor por amor
amava mais o cão

Jogava o pião
no ar ou no chão
Jogava e rodava
na palma da mão
Como João se orgulhava
do seu rijo pião

Com a doce ilusão
de ter uma alazão
cavalgava o jumento
sempre ao lado do cão
por caminhos de vento
e horizontes em vão

O Poeta Descalço
Lisboa, 1978.





sexta-feira, 5 de abril de 2013

Gorki e seus inimigos

Espetáculo: Os inimigos
Autor: Máximo Gorki
Diretor: José Celso Martinez Corrêa
1966, fevereiro, Teatro Brasileiro de Comédia

Gorki e seus Inimigos

Creio que não terá sido por simples coincidência que no átrio do TBC, sexta-feira última, noite de estreia para a crítica da peça de Gorki, Os Inimigos, se vendia, entre outros livros, os ensaios de Plekhanov, Arte e Vida Social. Sendo ele um dos principais teorizadores marxistas e lúcido crítico desta peça, cuja defesa fez um ano após ter sido escrita e editada, talvez seja muito útil lê-lo para se ter uma noção mais exata da importância de Os Inimigos no contexto da dramaturgia universal. Claro que pode argumentar-se, associando as ideias de um, ao texto dramático do outro, que as conclusões são óbvias. Mas, insisto, não obstante, pois o expectador mais exigente tem oportunidade de conferir a validade da discussão que a crítica idealista e impressionista ainda hoje propõe sobre a atualidade da peça. Para os outros, os que não se preocupam com uma visão especulativa dos problemas que derivam da peça, proponho que adotem a velha sentença de Spinoza: “interessam-me os atos humanos, mas não para rir-me deles, nem para deplorá-los, nem sequer para detestá-los, mas simplesmente para compreendê-los”. E mais: que leiam com muita atenção o programa que o Oficina distribui. A opção de uns e de outros, junto, porém, aquela que me perece dever ser a minha: qual a perspectiva histórica, segundo a qual devem ser interpretados e compreendidos os fatos e atos humanos cujas analogias se devem estabelecer entre duas épocas (1905-1966), dois povos (o russo e o brasileiro) e duas situações psicossociais (o prelúdio da Revolução Socialista e a decadência do neo-capitalismo)? Por isso acho melhor ler Plekhanov, pois a resposta é longa. Comecemos por saber que todo o sistema histórico sempre tende por anular o conceito orgânico que lhe serve de estrutura. Daí o dilema: para ultrapassar um é necessário suprimir o outro. Ora, o espectador brasileiro, a quem o diálogo do Teatro Oficina é proposto, na sua maioria é constituído por uma elite pequeno-burguesa, de certo modo intelectual ou intelectualizada, que pensa uma coisa e faz outra. Digamos mesmo que esse público (não tenhamos ilusões: senão levarem Os Inimigos ao povo, o povo não vai a Os Inimigos) é formado por uma ínfima camada de protótipos multirraciais, cujos conceitos dos sistemas históricos, especialmente aqueles em que vive, se fundamentam nas mais díspares interpretações: sobrenatural, heroica, física, sócio-biológica, racial, menos a interpretação materialista da história. Aqui as exceções confirmam a regra. E sendo assim, resta-nos ver a peça sob dois ângulos opostos: se for para justificar os fenômenos políticos que eclodiram doze anos depois, a peça é romântica, os personagens são esquemáticos, a mensagem é obsoleta. Mas se for para explicar (e assim deve ser) o aparecimento de ideias como reflexo de uma realidade objetiva externa, obedecendo, como obedece, o conflito dramático à força de uma psicologia e dinâmica da vontade e do pensamento de um povo, limitado por condições materiais e por uma psicologia coletiva que se assemelha, ainda hoje, a uma realidade atual, no caso, flagrantemente brasileira, então os Os Inimigos é um espetáculo polêmico, exemplar e muito importante. Mais: não obstante a falência dos movimentos operários europeus, que fizeram do seu espírito de classe um companheirismo romântico, responsável entre as duas guerras, pela decadência democrática, o espetáculo apresentado pela equipe do Teatro Oficina tem um significado histórico adentro do nosso teatro. Mas será necessário que o espectador lhe retire toda a especulação política, quiçá demagógica ou panfletaria, que, aliás, Os Inimigos só possuem na medida em que tal lhe seja atribuída. Ao contrário, deve conferir-se ao espetáculo o valor expresso de uma demonstração realística da identidade de situações humanas, que valem por si mesmas, como prova de uma denúncia feita por artistas conscientes de sua missão e responsabilidades, artistas que honram a sua arte e a sua condição de brasileiros.


quinta-feira, 28 de março de 2013

Sobre João


João Apolinário Teixeira Pinto nasceu em 18 de janeiro de 1924, em Belas, Sintra. Viveu parte da infância no Vale do Pomba, propriedade familiar situada em Lebução, Chaves. Na aldeia, fez os primeiros anos do curso primário. A montanha, a paisagem agreste, o silêncio, os animais e os frutos, as aves e as pedras foram as primeiras evidências do mundo que pensou ser o seu: profundo, autêntico, natural, com tempo "para ver mudar a cor das flores". Deslocar-se a Chaves para estudar foi o primeiro rompimento com o que não conseguiu realizar plenamente. Seguiu-se-lhe Lisboa, onde frequentou o Colégio Valsassina e o Liceu Camões. Surgiu a poesia, que o acompanhou sempre. Cursou Direito nas Universidades de Coimbra e Lisboa. Aos 21 anos, poeta intimista de voz singular, jornalista e jurista, foi para a França como correspondente da Agência Logos, de Madri. Viver os terríveis últimos tempos da Segunda Guerra Mundial marcou-o definitiva e cruamente.

A prática cultural, nunca partidária, de João Apolinário, na poesia, no teatro, no jornalisno, na crítica e na reportagem; a acutilância de suas ideias antifascistas, mais ações de real proteção a quem delas necessitasse, resultaram em prisões, torturas, e, pior, tempos dolorosos de afastamento dos filhos, João Ricardo e Maria Gabriela. Na década de 50 publicou Morse de sangue, livro memorizado numa cela subterrânea de Peniche, durante cinco dias e cinco noites. Em 1963 partiu para São Paulo, onde ficou exilado durante 12 anos. Sua atividade jornalística, crítica e poética foi intensa. Muito do que está contido no Poeta Descalço e Apátridas. Viveu, no dia 25 de abril de 1974, a enorme alegria, por um tempo curto, sim, mas pode vivê-la, de ver Portugal livre do fascismo.




O que vem por aí



São Paulo, JA, 2013.



Poesia e jornalismo são atividades essenciais que fazem a memória de João Apolinário. Este blog foi criado para tornar sua obra visível. 

O ano de 2013 marca o lançamento de suas críticas teatrais produzidas em São Paulo entre 1964 e 1971. Contemplada pelo Petrobras Cultural, 332 críticas e 329 imagens entre fotos e programas de espetáculos compõem a antologia, A Crítica de João Apolinário - memória do teatro paulista de 1964 a 1971. Neste ano também, seu acervo - 500 críticas, 1.200 fotografias e 250 programas de de espetáculos - será doado ao Arquivo Edgar Leuenroth (AEL), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O objetivo é dar livre acesso ao material a pesquisadores e estudiosos do teatro.

E não à toa Apolinário foi o homenageado deste ano do prêmio Os Melhores da Arte em 2012 da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), entregue em meados de março. Como explica o jornalista, ator e dramaturgo Oswaldo Mendes em seu texto "Rascunho da memória", que faz parte da abertura do livro, Apolinário percebeu que "era preciso congregar os críticos de arte de todas as áreas, do teatro ao rádio e à televisão, do cinema à música popular, da literatura à música erudita, do rádio às então chamadas artes plásticas, enfim reunir um número expressivo de vozes que pudessem ser ouvidas também como resistência à censura oficial. O caminho mais curto para esse objetivo seria transformar a Associação Paulista de Críticos de Teatro (APCT) em APCA". Em 1972, Apolinário assumiu sua presidência e redigiu seus estatutos.